domingo, 9 de novembro de 2008

Desespero de Pré-Mamã II ...

Cá vem, dançando, mais uma corajosa mamã... contando a história do fumo na sua gravidez.

Olé para ela, que é da La Payita que se trata!

"Dois ou três dias depois de saber que estava grávida, deixei de fumar. E nas horas que se seguiram devorei toda a espécie de pastilhas elásticas e rebuçados. Nunca tinha imaginado haver tanta diversidade de pastilhas. Os rebuçados quase que os comia com papel e tudo. E durante cerca de 24 horas esqueci-me que estava grávida. O único pensamento que o meu pobre cérebro processava era: "Deixei de fumar, deixei de fumar, deixei de fumar..."
No dia seguinte, roubei um cigarro a alguém e fechei-me na casa de banho. A fumar o primeiro cigarro culpado. De uma série de cigarros culpados, que me aconteceram nas 37 semanas seguintes. E nem a sentença benévola da minha médica, a dizer-me que mais valia fumar um cigarrito aqui e ali do que viver a ansiedade de não fumar nenhum, me impediu de viver 37 semanas da mais angustiante CULPA.
Reduzi para metade. Alternava os meus ventis com uns cigarros que nem recordo o nome, grandes e fininhos até ao desespero. Cigarros de "senhora", disseram-me. E eu sem conseguir evitar sentir-me uma adolescente, a fumar às escondidas dos pais e dos "stôres". Escondida na casa de banho. Dos cafés, dos restaurantes, dos consultórios médicos, da Maternidade... Mas nem aí a culpa me deixava sozinha, a saborear o momento clandestino.
Estive internada na semana que antecedeu o parto. Os cigarros contados e controlados por adultos zelosos e responsáveis. Uma semana, num quarto de hospital, sem nada para fazer, sem conseguir sequer a concentração necessária para ler um livro. Sozinha. Horas que pareciam dias. Com os cigarros da culpa contados. Acho que a minha filha nasceu mais cedo para acabar com a minha pena. Em solidariedade.
Amamentei muito pouco tempo. Quando acabou a liberdade condicional, agarrei numa garrafa de coca-cola e bebi-a como se não houvesse amanhã. A bebida a sair-me aos borbotões pelas narinas, os olhos a lacrimejar com o gás. No final, um arroto sonoro! BRRUPP! Estava livre!!! Desatei a fumar. Tanto, que dupliquei o que fumava antes de engravidar.
Daquelas 37 semanas recordo melancólica as minhas jardineiras de ganga. Que usava até ter vergonha que reparassem que andava sempre com a mesma roupa. As minhas jardineiras de ganga, com um bolso à frente. Onde escondia os cigarros e o isqueiro. E assim, podia ir a todas as casas de banho, deixando a mala com os guardas prisionais. "'Tão a ver? Nada na mão! Não vou fumar!". As minhas jardineiras e eu... Partners in crime!"

La Payita
http://pachadrom.blogspot.com/

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